O texto que se segue, belissimamente produzido, diga-se de passagem, é obra do Prof Ms Raimundo Mattos. Nele, expõe sua indignação quanto à suposta "indignação" do Secretário Estadual de educação. Fala por nós já que muitos gostaríamos de dizer o que está dito ali. Boa Leitura.
INDIGNAÇÃO
Li no site da Secretaria Estadual de Educação que o senhor Secretário está indignado com a utilização do cartão enviado aos professores no valor de R$ 500,00 em compras de supermercados, quando o mesmo deveria ser utilizado para aquisição de material cultural destinado à melhoria da formação dos professores. Tem toda a razão o senhor Secretário, mas... Mais indignado fiquei eu quando:
- constatei que, sem querer eximir alguém de ter usado indevidamente o cartão, vários professores se viram obrigados a lançar mão de tal expediente para poderem completar os vencimentos mensais, uma vez que o salário pago não é suficiente mais para o mês;
- vi que professores foram acusados sem uma prova material do uso indevido do cartão, apenas pelo que se ouviu dizer;
- o dito cartão, alardeado desde o final do ano passado, ter passado por uma série de promessas e ter chegado exatamente quando os professores entraram em greve;
- vejo minha escola, patrimônio histórico da cidade, com sua bela escada de madeira escorada, seu segundo andar embargado pelos riscos que oferece à segurança de professores, funcionários e alunos;
- me lembrei que, em 2004, mais precisamente no dia 12 de dezembro, por ocasião da reabertura da Catedral, escutei do então Secretário de Cultura, Professor Arnaldo Niskier que, no ano seguinte teriam início as obras de restauração do prédio da escola (eu estava ao lado dele);
- essa mesma escola onde estudei por 9 anos estar já há vários anos sem uma reforma sequer, tendo o governo estadual enviado funcionários para começar a restauração, estes terem posto abaixo o seu antigo pátio interno e irem embora;
- para podermos ter aulas, fomos obrigados a utilizar um esqueleto de anexo sem condições de uso;
- finalmente, após apelos de pais, professores e direção, após a queda de uma viga na cabeça de uma professora, a obra do anexo ter início e, em menos de um semestre de uso, já apresentar uma série de problemas estruturais e a restauração do prédio principal continuar na memória do Professor Arnaldo Niskier;
- o abono do malfadado Programa Nova Escola foi finalmente anexado ao salário, em suaves prestações anuais, terminando em 2015 e ser anunciado como ganho dos professores;
- entro em salas de aulas lotadas, sem condições de trabalho nem de se conhecer minimamente os alunos;
- criou-se um novo programa de abonos, também alardeado aos quatro ventos, levando professores com salários defasados a comemorarem um hipotético décimo quarto salário no final de 2012, depois de vencidas incontáveis metas durante dois anos;
- escutei que professores e funcionários devem se vigiar mutuamente a fim de denunciar erros dos colegas que não estariam cumprindo as metas;
- vi que a legislação não está sendo cumprida pelo governo ao enviar um currículo mínimo desrespeitando o fato de que a LDB permite às escolas organizar o seu currículo com base nas diferenças regionais do estado;
- fui informado que teria que cumprir, em um ano, um currículo mínimo para dois, com duas aulas por semana, tendo que dar três avaliações com suas respectivas recuperações, o que consome seis semanas por semestre;
- vi que aos alunos são dados todos os direitos sem nenhum dever e aos professores, todos os deveres, sem nenhum direito;
- constatei que direções de escolas, regionais e Secretaria de Educação, no programa de metas, terão a única função de fiscalizar o trabalho dos professores, quais feitores modernos;
- entendi que o tal programa de metas foi estruturado por um grupo de tecnocratas, que diz ter ouvido alguns professores, confortavelmente aboletados em escritórios, longe das salas de aula, desconhecendo por completo a realidade de escolas, alunos e professores;
- ouvi o senhor Secretário de Educação alardear que as escolas estão sendo devidamente reformadas, ao mesmo tempo em que entro todas as semanas em uma escola cujo segundo andar está escorado para não oferecer riscos.
Mas... o que é a minha indignação diante da indignação do senhor Secretário de Educação?
Raimundo César de O. Mattos
Prof. da rede estadual de Educação
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