domingo, 11 de dezembro de 2011

Crônicas de 88 II

“CUF” taí!


30 de novembro de 1988. 13 horas. A Direção do Sindicato dos Metalúrgicos de Barra do Piraí e região, tendo à frente o Companheiro Batista, realizava Assembléia com os metalúrgicos da Santa Rosa Máquinas em frente aos portões da empresa. Após descrever o processo de negociação desde o seu início e apontar as possibilidades segundo o seu ponto de vista, Batista franqueou a palavra, permitindo aos presentes a exposição de suas angústias, vontades e propostas.
Dos trabalhadores vinham relatos sobre o que ocorria dentro da fábrica. Inclusive sobre a reunião feita no dia anterior dentro das dependências da Santa Rosa Máquinas, convocada pelo próprio empresário, Sr. Júlio Vito. Na tal reunião o empresário exortava seus empregados ao afastamento do Sindicato; solicitava um “vestir a camisa da empresa”; criticava políticos de esquerda (inclusive a candidata a Prefeita pelo PT, Lindsey Fernandes) e, no final da conversa, duvidava da capacidade dos trabalhadores realizarem a “tão falada” GREVE. Na verdade, a ida do empresário à fábrica demonstrava já a sua preocupação com o que poderia ocorrer. Sua leitura da realidade, embora com elementos distorcidos, era clara. Ele sabia perfeitamente que a postura dos Sindicalistas Metalúrgicos, naquele momento, mobilizaria os trabalhadores e resultaria na GREVE. E o pior: arrastaria os operários têxteis para o movimento colocando-o em posição frágil diante da sociedade valenciana.

Todas estas informações, somadas àquelas colocadas pelos sindicalistas, ajudaram a construir o caminho a ser seguido a partir dali: instalar a GREVE por tempo indeterminado na Santa Rosa Máquinas. Às 13:20 horas do dia 30 de novembro de 1988 iniciava-se um novo tempo na relação entre “Dr. Júlio Vito” e seus empregados. Lá dentro da fábrica as notícias demoraram um pouco a chegar. Um turno terminava naquele horário. Outro iria até as 17 horas e o pessoal estava em horário de almoço.

Entre os trabalhadores da SRM vários guardavam características próprias: uns gostavam de motos, outros de cavalos, uns rápidos, outros, a lentidão em pessoa. Alguns reflexivos quase não falando, outros mais expansivos. Alguns, donos de personalidade e opiniões marcantes, outros, verdadeiros “marias-vão-com-as-outras”. Uns, com a fala clara, definida. Outros, tropeçando na língua de tão rápido que falavam. Era o caso do “Ursinho”.

“Ursinho”, além da fala rápida, também gostava de cavalos. Vivia enfeitado feito cowboy: fivelas grandes, chapéu, botas. Caipirão. Pois foi ele, que nem perto do Sindicato passava, o responsável pela notícia: - “A “CUF” taí!” No primeiro momento ninguém entendeu nada. E repetia o “Ursinho” enquanto, esbaforido, andava de um lado para outro da oficina: - “A “CUF” taí!”. Alguns segundos mais bastaram para que os trabalhadores do interior da fábrica concluíssem: “A CUT taí!” Onde CUT significava a Direção do Sindicato dos Metalúrgicos de Barra do Piraí e região. E o jeito desembestado do “Ursinho” era resultado da aprovação, pela maioria dos trabalhadores presentes à Assembléia, da proposta de GREVE por tempo indeterminado na Santa Rosa Máquinas.

Um comentário:

  1. Velhos tempos - nem tão remotos - em que a "CUF" exortava os trabalhadores à luta...

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